quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Palomar tinha um objectivo:

(agora em português … )

fazer a leitura de uma onda. Uma onda única e basta: querendo evitar sensações vagas, estabelece um objectivo limitado e bem definido.

Hmmm, um objectivo desassociado de um problema … isto assumindo que na sua definição (ou numa das suas definições possíveis), um problema pressupõe dificuldade no alcançar de um objectivo. Palomar está numa praia, a olhar para o mar. Não se pode dizer que haja evidências de que venha a ser difícil alcançar o objectivo.

Segundo essa mesma definição(1), um problema remete a uma situação, condição ou assunto ainda por resolver. Bom, existe um assunto por resolver mas continua a parecer simples - a leitura de uma onda faz-se observando-a e Palomar observou-a.

Palomar vê despontar uma onda lá ao longe, vê-a crescer, aproximar-se, mudar de forma e de cor, enrolar-se sobre si própria, quebrar-se, desvanecer, refluir. Chegando a esse ponto, poderia convencer-se de ter levado a cabo a operação que tinha decidido efectuar e poderia ir-se embora.

Pode-se considerar que o objectivo foi atingido, sem implicar uma relação directa a um problema de base? Palomar havia sido extremamente preciso na definição do seu objectivo – fazer a leitura de 1 onda.

Mas isolar uma onda (…) é muito difícil. Em resumo, não se pode observar uma onda sem ter em conta os aspectos complexos que concorrem para a sua formação e aqueles outros, igualmente complexos, a que essa mesma onda dá lugar.

Palomar tem agora um problema. O seu bem-estar pessoal foi abalado (Palomar é um homem nervoso …) e ele terá agora de encontrar o caminho para chegar ao seu objectivo.

Após tomar consciência de que a leitura de uma onda representa um problema, necessariamente complexo por complexo ser o problema de formação de uma onda, Palomar irá ter de aplicar a sua regra de construção, validação e correcção de modelos* para conseguir (ou não) chegar ao seu objectivo.

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* posso adiantar-vos que ele desiste, devido à sua impaciência. A praia acaba por lhe trazer outros problemas, na minha opinião bem mais difíceis de resolver, por envolverem relações sociais cujas convenções existem mas com limites muito mais cinzentos …

Outra nota: o facto de estar tão preocupada com os problemas do Palomar não significa de todo que eu não tenha os meus próprios problemas bem definidos. Quero com isto dizer que sim, já fiz o TPC.

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