segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Mr. Palomar is back ...

"Num modelo bem construído, cada detalhe deve ser condicionado pelos outros, pelo que tudo se mantém com absoluta coerência, tal como num mecanismo onde, se uma das engrenagens pára, todo o conjunto pára. O modelo é por definição aquilo em que não há nada a mudar, aquilo que funciona na perfeição; ao passo que, em relação à realidade, podemos facilmente verificar que ela não funciona, que se espapaça por todos os lados; portanto, nada mais resta do que obrigá-la a tomar a forma do modelo, a bem ou a mal."





Mr. Palomar é, sem dúvida, um fundamentalista dos modelos. Imune aos dados, "esforçou-se por alcançar uma impassibilidade e uma distanciação tais que fizessem com que aquilo que contasse fosse apenas a serena harmonia das linhas do desenho - linhas claramente traçadas, rectas e círculos e elipses, paralelogramas de formas, gráficos com abcissas e ordenadas."


No case study anterior, a harmonia do desenho é o que menos importa. Em primeiro lugar, aquele modelo nasceu da necessidade de traduzir uma determinada decisão de negócio. Procura traduzir a relação entre as diferentes variáveis inerentes ao problema de decisão, apoiando o processo exploratório dos factores que impactam a decisão. As formas utilizadas têm significados bem definidos, identificando a variável de decisão, as variáveis intermédias e as variáveis objectivo.


Acima de tudo, é a concretização do processo mental que se desencadeia na mente do gestor quando confrontado com a necessidade da tomada de decisão. O diagrama de influências apresentado baseia-se numa situação de negócio real e foi um óptimo exercício por ter revelado a necessidade de considerar duas variáveis exógenas que raramente são abordadas como tendo verdadeiro impacto nos resultados (... deve ser por isso que passo dias a fazer análises sobre a influência dos perfis e dos meios na taxa de resposta e nada se conclui ... uuupsss ...). Provavelmente, andamos a querer moldar a realidade ao modelo que nos convém ... (sim, ELES têm o endereço deste blog; sim, vou descobrir rapidamente se ELES costumam vir aqui dar uma espreitadela).


Para construir o modelo, é necessário partir de alguma coisa, ou seja, é preciso ter modelos, axiomas, postulados, a partir dos quais se faça derivar por Dedução o nosso próprio raciocínio. E de alguma forma eles têm de existir, porque senão não nos podíamos pôr a pensar sequer. É a obtenção de dados através da aplicação de fórmulas. Contudo, o processo de Dedução pouco acrescenta por assentar na aplicação de regras gerais a casos particulares. A Indução é, em certos aspectos, oposta à dedução, porque as premissas a partir das quais se parte são as menores, fazendo o raciocínio avançar do particular para o geral. É a extracção de conhecimento, revelado através de relações emergem dos dados. É a existência de dois princípios que se completam entre si, que são os vasos comunicantes entre Dados e Modelos.


"Deduzir era uma das actividades preferidas de Mr. Palomar, porque podia dedicar-se a ela sozinho, (...) sem quaisquer apetrechos. (...) Em relação à indução, pelo contrário, sentia uma certa desconfiança, talvez porque as suas experiências lhe pareciam aproximativas e parciais.


A construção de um modelo era portanto para ele um milagre de equilíbrio entre os princípios e a experiência, mas o resultado tinha de ter uma consistência muito mais sólida do que aquelas e do que esta."


(ITALO CALVINO, Mr. Palomar)

P.S. -

1 comentário:

Zézinha_Trig disse...

Gosto mesmo, fico à espera do próximo episódio