domingo, 7 de outubro de 2007

Sobre Inteligência e Matemática

M.C. Escher


Mais do que um simples artista gráfico, M.C. Escher conseguiu brincar com arquitectura, perspectiva e espaços impossíveis. A sua paixão pela Divisão Regular do Plano originou a gravura que se encontra aqui reproduzida, em que peixes e aves são usados como elementos para o preenchimento de superfícies.

Sou fã incondicional do trabalho de Escher, talvez por ele ter brilhantemente cruzado áreas do Conhecimento que sempre me atraíram. Sempre adorei desenhar e, à luz da Teoria das Múltiplas Inteligências de Howard Gardner, considero que o meu forte sempre foi a Inteligência Lógica. Daí ter tomado desde cedo a decisão de que o meu futuro seria a Arquitectura, pois achava que a combinação destes dois factores seria o suficiente para que eu viesse a ser uma boa arquitecta. No Secundário estive sempre em Artes e completei dois anos do curso de Arquitectura. O 1º ano foi um ano de sucessos, pois o desenho era uma disciplina com forte peso na estrutura do curso, assim como a abstracção de conceitos (como a percepção de Espaço e relação entre Corpo e Espaço). A Matemática era então uma disciplina que tinha também um peso muito elevado (para desgosto dos meus colegas de curso), e os meus resultados surpreenderam muita gente (pela positiva, entenda-se), tendo para isso também contribuido a minha personalidade discreta e reservada que ainda hoje se mantém.

Durante algum tempo assumi que a Inteligência Lógica e a Espacial seriam, no meu caso, um dois-em-um. Alguns criticos da Teoria de Gardner defendem precisamente que existe uma elevada correlação entre as capacidades espaciais e matemáticas, o que poderia contradizer a separação clara entre os diversos tipos de Inteligência defendida pelo autor. Mas ao fim do 2º ano percebi claramente que no meu caso uma não implicava de todo a outra. Aquilo que eu pensava serem inclinações artísticas eram na verdade algum virtuosismo nas técnicas de desenho.

Altura de re-definir objectivos, altura de avaliar as minhas capacidades. "Elevada capacidade de extrair informação de dados sem aparente significado", foi o resultado do teste que mais me marcou. A escolha estava feita, Matemática Aplicada à Computação, Inst. Sup. Técnico. Preparei-me durante 6 meses, sabia que entrava pois a média de acesso não representava para mim qualquer tipo de obstáculo. Eis que por acaso, numa página do Expresso, a 1 mês de fazer o exame nacional para o acesso ao Ensino Superior, encontro o anúncio ao Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação, que iria realizar provas de acesso dali a 2 semanas. Múltiplos factores ajudaram-me a tomar a minha decisão: o ISEGI fazia parte da Universidade Nova de Lisboa (Universidade de prestígio), a estrutura do curso era muito abrangente, havia uma forte relação com o mundo empresarial, eram só 2 anos de licenciatura (para candidatos que tivessem no minimo 2 anos de uma outra licenciatura). Fiz na mesma o exame nacional de Matemática, tive uma óptima classificação mas interiormente eu já sabia que iria escolher o ISEGI. E ainda bem, foi uma óptima decisão, com consequências fantásticas a nível profissional e sobretudo a nível pessoal.
Mas o acaso está aqui - foi o acaso que determinou que, no preciso fim-de-semana de publicação do anúncio do ISEGI, eu o tivesse lido. E, para além de todos os factores que estiveram na base da minha opção, foi a minha intuição que ditou a minha escolha. É o gut-feeling, adoro esta expressão (experimentem colocá-la no motor de pesquisa da wipedia ... ). Identifico-me com ela porque relembra que o corpo tem um papel de relevo no comando e a validação das nossas decisões, não questionando tudo o que já foi postulado pelas diversas correntes da Teoria da Decisão.

A 1ª fase do processo de decisão, para Jonh Dewey, é o sentimento de dificuldade. Comigo aplica-se. É o frio na barriga, a ansiedade - mais uma vez, é o corpo a manifestar-se.

4 comentários:

Rui Almeida Santos disse...

Olá Sofia.
Grande Post, excelente percurso académico o teu, sem dúvida.
Eu, em momentos de decisões de fundo, também costuno estar muito atento aos sinais que aparecem de onde menos se espera. Como esse anuncio que te surgiu na hora H. Até parece que alguém te vem dizer: - Sofia, vai por esta via, que ficarás mais bem servida!
Eu também acredito.
De tudo o que escreveste neste post, apenas houve uma coisa que eu não subscrevi e cito:

"Aquilo que eu pensava serem inclinações artísticas eram na verdade algum virtuosismo nas técnicas de desenho."

Desculpa, mas isto só acredito vendo. Por isso, tens de colocar aqui alguns desses trabalhos de desenho para podermos avaliar se há arte ou se é apenas um virtuosismo técnico.
Não sei porquê mas a minha intuição diz-me que aqui te enganáste.

Bjs
Rui Santos

Ana Sofia Marques disse...

Eheheh não tenho fotografias de nada que já tenha feito para colocar no blog ... e não quero descer o nível deste blog, afinal a parada vai alta, entre o Dilbert e o Escher :-)

Obrigada pelo comment, Sr. Balanced Scorecard em Portugal ;-) ...

Zézinha_Trig disse...

Cara Ana
Gostei mesmo muito deste teu texto.
"Elevada capacidade de extrair informação de dados sem aparente significado". Acho que com o sem ISEGI chegavas ao BI. Bem vinda, esta a tua área.
Estou de acordo contigo, inteligência espacial é diferente de logica e eu também fiz a mesma confuzão. Podias no entanto ter valores altos nas duas. Já voltaste a fazer estes testes ?
Bom trabalho
MJT

Ana Sofia Marques disse...

Profª,

O mesmo teste não, mas fiz o teste do eneagrama do tickle.com.

Sou do Tipo 5 - The Experimenter. Ou seja, tenho uma "forte percepção bem como uma mente curiosa e inovadora."

Acho que fiz alguns progressos nos últimos 8 anos ...

Até logo,
ASM